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Mostrando postagens de 2013

Desajuste

Ela saltou do ônibus empoeirado, com sua mochila nas costas, agasalho amarrado em sua cintura, fechou os olhos por um instante e deixou que o vento leve e os raios de sol tocassem seu rosto. Logo, foi interrompida pela velha rabugenta que, vindo atrás, a cutucou com a bengala indicando que queria passar. Ela, sem se importar, deu mais uma longa respirada e, finalmente, desobstruiu a passagem. Sem saber para qual lado ir, deu uma olhada ao redor e, em meio a tantos carros, buzinas, pessoas e correria, encontrou um rapaz que estava sentado na rua, um pouco distante da confusão, desenhando fotografias. Achou que seria uma boa pessoa para lhe dar as informações que precisava e, assim, dirigiu-se ao artista de rua que, apesar de um pouco sujo e com o cabelo desgrenhado, tinha boa aparência: - ¿ Me puede decir dónde voy a encontrar la calle São José? Estoy cierta de que es cerca de aquí, pero no sé muy bien por cual camino debo pasar. - Hola, linda! É só pegar a pri-mei-ra a de-re-cha, lo

But it does

"Should" is a word that shouldn't exist!

O fim último como presente

Assim como Aristóteles, penso que a felicidade é o fim último que a vida humana, desde os primórdios, busca. Indiscutível é que suas teorias deram base a muitas outras desenvolvidas no século XX. Entretanto, nascer alguns séculos mais tarde, atrevo-me dizer, lhe faria bem. Certamente, atingiria um nível inimaginável de perfeição no pensar. Faltou-lhe conhecer Darwin, admitamos. Deixando de lado o escorregão do filósofo que, a propósito, é um dos meus favoritos ao trazer a ideia do homem moderado, passo a concentrar em seus acertos. Tudo gira em torno desta incessante busca à felicidade. Para mim, definida como o sentimento mais inexplicável que ao homem pode ocorrer. Para ele, com um sentido diverso, motivo pelo qual sigo agora a meu modo de pensar. Felicidade é sentimento, ora. O anseio para do mesmo desfrutar é tão intenso que sequer considera-se sua natureza. Como tal, é volátil. É estado de espírito. Vem e volta. Não há momento na vida em que seja possível se dizer, em portugu

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Toda tentativa de generalização é falha. E, nesta, esta se inclui.

À Amanda da vez

Uma parte de mim foi arrancada com a brutalidade e maestria que só um criminoso tem. Não o culpo, mas também não o perdoo. E se o ver, mato-lhe também. Se em meu peito só resta solidão, em sua cabeça agora é tensão. Remorso por ter matado? Insensatez. Medo de ser encontrado? Talvez. Um disparo e mais nada, fim da risada, galera animada, festa badalada, amigos em ritmo de noitada, meia vida de uma namorada. Muitos olhos marejados, outros calados, não menos preocupados. Para quem acredita que haverá um reencontro, conforto. Para mim, que vejo que acabou o conto, ele está morto. O Estado do caos ainda é presente. Medo latente. Conflito pendente. Hobbes contente. Povo inconsciente. Mudança insuficiente. Esperança dormente. Dona da minha liberdade eu sou agora. De que adianta? Metade de mim foi embora.

Fluxo vespertino

Tardes são movidas por um fluxo (peço-lhes licença para uso de um neologismo) inconceituável. Pode-se delas dizer um espaço de tempo que se estende do fim da manhã até o início da noite, em que o sol está (ou não) no céu e cujo tempo passa (ou não) lentamente. E são tomadas por um marasmo incômodo, para alguns, ou por uma correria esgotante, para outros. Para mim, como já era de se esperar, vez que, por natureza, defino-me instável, nunca houve posicionamento claro no que tange à qual tipo de tarde gozam meus dias. Assim, deixo de lado esta análise que, em suma, nada acrescentará. E passo, pois, a tentar entender, não mais em abstrato, certa tarde concreta que me ocorrera. Não posso dizê-la atípica por não ter tardes típicas a me referenciarem, mas, adianto-lhes que esta em muito se diferenciou de todas as demais, por ter o decurso do tempo sido híbrido. O ponteiro do relógio vagarosamente ia se arrastando, e, por vezes, ainda que ciente da recente troca de pilhas feita por Michel,

É agora?

Quando somos jovens tudo é intensificado. Qualquer estado de espírito parece eterno e, de uma forma paradoxal, transforma-se tão rapidamente que a mudança parece não ter sequer ocorrido. E, assim, o novo estado coloca-se como o próximo eterno. Alguns dão-se conta de que a metamorfose é fator inarredável. Outros, com propriedade, orgulham-se do que dizem ser com tanta certeza. Não os julgo. É normal que sintamos ser o que estamos sendo. É normal que nem sequer façamos diferenciação entre ser e estar sendo. Mas, eis que vos digo, não somos aquilo que nos taxam ou aquilo que nos taxamos. Não estamos fadados a sê-lo para sempre, não há nada que vincule nosso destino. Não há que ter-se receio de tentar, errar ou apostar. Somos presenteados com o presente, recebendo chances novas todos os dias ao acordar. Quando não restar oportunidade alguma, não daremos conta, vez que teremos deixado de ser. Mas, enquanto somos, não há chance inesgotável ou futuro inalterável. O que há, por mais clichê qu

Eu, eu não domino a esgrima

Como lidar? Com a cara a tapa do tapa que não foi dado e o humor que não está relaxado, o suor que deixa de transpirar, devido ao corre que tira as forças do lugar. Põe no pesadelo o sonho mais bonito e tira da mente o que tinha de bom, deixa achar que só restou o que não presta. Parece que acabou a festa, cada dia fica pior. É como o moleque que enxergava o que tinha por detrás dos olhos, bastou que se curasse o que estava lá pra deixar de remoer a dor do que costumava ver. Assim é o homem. Depende do ponto de vista, pode achar a paisagem preta ou colorida. Qualquer coisa que eu disser não fará sentido, porque não querem ver sentido, querem achar que eu não ligo. A verdade é que ligo e assim me castigo.