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Mostrando postagens de maio, 2017

Sapos

- Sabe que andei pensando e... bom, cheguei à conclusão de que você é como um livro do Dostoiévski. Parece interessante, cheio de palavras difíceis, se adapta bem ao frio, combina com café, traz aquela faísca de cultura, como se, apenas por estar perto, fosse me tornar, por consequência, também mais interessante. Porém, é chato pra caralho. "Como assim? Tá ficando louca? Dostoiévski! Não fale mais isso perto de ninguém. Dostoiévski, cara" É, certamente não falarei mesmo. Inclusive, na minha estante de casa tem no mínimo uns quatro livros do russo, que guardo há anos. Alguns lidos, outros intocados. O que fazemos quanto à chatice de Dostoiévski? Ignoramos, ora. Na verdade, sequer admitimos para nós mesmos. No fundo, temos em mente que Dostoiévski é muito mais interessante do que jamais poderemos ser e, claro, nos enchemos de culpa por não nos sentirmos envolvidos na trama do autor, tampouco fazer algumas concessões para gostar dele ou, ainda, cair no sono durante a leitura. L

Das Relações Interpessoais Transitórias

Sim. Transitórias. Aquelas que duram pouco e que dispomos de um arcabouço mínimo de conhecimento sobre o indivíduo contraposto (assim os chamarei), além de um tempo ínfimo para traçar nossas impressões valorativas. Tenho pra mim que o imperativo responsável por reger tais interações é o instinto. Passarei, pois, a defender o papel de importância máxima desempenhado por esta engrenagem automática e dotada de pouco reconhecimento. Comecemos do começo. Tem-se que ao primeiro contato visual compartilhado com um indivíduo contraposto é estabelecida uma comunicação rica, porém, de interpretação duvidosa. Duvidosa porque não confiamos em nós mesmos, não vamos por aquilo que nossas entranhas nos fazem sentir, tampouco por aquilo que nosso peito grita. Sempre atribuímos tais sensações às baboseiras de nossa mente e concluímos com nosso autodiagnóstico de louco. Contudo, se depositássemos crédito em nós mesmos e seguíssemos nossa intuição, acertaríamos em nossas análises muito mais do q

vida doce

shopping lotado coisa de cidade grande de pé na porta da confeitaria mais cheirosa do andar eu o espero pagar pelo bolo de nozes não temos mais pressa gosto da idade que alcançamos um riso bobo me percorre o rosto bem quando ele me olha e também começa a rir para mim somos dois bobos bobos alegres na fila do bolo de nozes

Besteira de gente grande

Noite de domingo. Sonolenta, eu ouvia sua voz ditando cada palavra daqueles textos que escreveu, enquanto eu mesma os lia antes de dormir. Sua voz doce tinha gosto dos seus lábios, que tinham gosto dos seus beijos, que, por sua vez, tinham gosto de amor. Amor que tinha cor. Cor de rosa, lilás, branco... qual era a cor daquele meu vestido? Não sei se coral ou vermelho, mas era cor que só se usa quando se ama e é amado. Ninguém transborda aquela felicidade colorida sem estar amando. Normalmente usa-se preto, no máximo cinza, bem se sabe. O amor era tão simples que parecia ser algo que se compra naquele velho mercadinho da esquina da casa dos seus avós. Mercadinho da família Silva, três irmãos e uma irmã, com uma cambada de moleque. Conhecem a gente pelo nome. Coisa que só se tem no interior. Podia-se entrar, pegar sua bala preferida e pendurar na conta, que nem nossa era. Nosso amor também não tinha conta em nosso nome. Nenhum acerto a se fazer, pois já estava tudo certo desde o primeir