Lastros

Dia atípico. O frio só corrobora com a impressão de solidão que o ar tece no raio que me circula. Seria só mais uma monótona terça-feira se não fossem as memórias que a todo momento batem na minha cabeça, martelando meu peito e deixando um pouquinho de falta de ar. Nada demais, eu diria. Não é surpresa para ninguém se lembrar de coisas passadas. É comum, inclusive. O que me faz dissertar sobre este estranho sentimento é que há muito eu não me recordava de coisas que recordei hoje. Imagens fracionadas, jogadas para trás. Não fora culpa ou dolo, o tempo nos toma a vida naturalmente e nada nos resta a fazer. Aos poucos os caminhos se constroem, desenham belas curvas como estradas, deixam escolhas, fazem imposições. Não reclamo. Viver é melhor que sonhar. E eu sei que a vida é uma coisa boa. Uma pasta colorida, um cheirinho de lanche guardado, arquinhos (lindos), risadas, uniformes, dentes de leite, serventes gordas, porteiros altos, grades coloridas, portas pintadas, um restinho de cola seca nos dedos, um estojo estourando de lápis de cor. Tudo tão clichê e tão real. Estranho pensar que éramos nós ali. A cada passo que damos esquecemos de algum passo já dado... a memória é água que evapora e o tempo é relógio com fome de hora.

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