Pouco, muito pouco, importa

Tudo porque eu não conhecia Jung. Ora, e daí que eu não conhecia Jung? Eu poderia muito bem conhecer. Conheci outros. Conheço outros. Conhecerei outros. E agora conheço Jung também.
Eu li Freud quando ainda estava no colégio, lá pelos 15 anos de idade. E Plotino? Duvido que manje alguma coisa de Plotino, mística ou qualquer outra merda dessas que antes eu achava o máximo e hoje não passa de história pra boi dormir, pelo menos pra mim. Também conheci Descartes muito nova e, desde então, cogito, ergo sum. Sinto a náusea que Sartre fala muito antes de ter lido suas obras. Rejeitei as ideias de Kant e Spinoza. Me apaixonei por Hume, mas me tornei cética muito antes de ter conhecido sua teoria, até porque, ele tinha razão, todo conhecimento útil sobre o mundo vem através do que experimentamos pelos sentidos.
Tá vendo como tanto faz tudo isso? Tanto faz quem você leu ou quem você ainda tem pra ler.  
Como amante da filosofia, sempre medi as pessoas pelo número de filósofos que elas conheciam. Hoje vejo a absurdez de se fazer algo assim. Conheci algumas pessoas fascinantes que nunca fizeram questão nenhuma de saber o que Sócrates, Aristóteles ou Platão falaram e, ainda, achavam que esses eram os únicos filósofos que existiram.
Fascinantes. Pessoas fascinantes. Pessoas que a mera presença me elevava absurdamente o nível de felicidade instantânea. Pessoas que traziam pontos de vista altamente intrigantes, reais e complexamente construídos, a ponto de, paradoxalmente, chegar às conclusões mais simples e epifânicas.
Lembro desse amigo que ficava deslumbrado quando eu mencionava algum pensador consagrado e me dizia como gostaria de ler, conhecer e falar com a mesma certeza que eu alguma dessas baboseiras. Porém, esse mesmo amigo já expôs raciocínios deslumbrantes sobre a espécie humana, constatou por conta própria várias limitações intrínsecas ao ser, que poucos são capazes de notar. 
Adorávamos falar sobre relações a partir da racionalidade. Comentávamos como éramos estúpidos em viver uma farsa social, plenamente endossada por todos. Cada um, no seu mais íntimo entender, sabia que era tudo uma grande mentira e, ainda assim, devido às necessidades culturais, ratificava todo o conto social. Ríamos e nada daquilo nos machucava. Ele nunca precisou ler Freud pra seguir comigo naquele raciocínio.
Freud é superestimado, assim como o resto dos filósofos. Superestimados por mim também, como não poderia deixar de ser. Mas resolvi que não mais serão. Não mais me curvarei diante de qualquer majestade do pensar que séculos antes desbravou alguns mundos antes nunca tocados. Me desculpem os nobres idealistas, materialistas, escolásticos, racionalistas, empíricos, pragmáticos, fenomenologistas, existencialistas e pós-modernos, mas podemos tirar nossas próprias conclusões sobre o mundo daqui pra frente.
Pelo menos assim, próxima vez que eu ver Jung nas prateleiras, pouco importará.

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