Bem-vinda consciência oscilante

Rememorava traços que lhe voltavam pouco a pouco. Contra cada fragmento, relutava. Não era possível que tudo isto houvesse acontecido. Sobretudo neste curto espaço de tempo.
- Qual o sentido da espera?, dizia. 
- Todo, é claro. 
- Se a vida é feita de segundos, por que contam em anos? Se as pessoas são tão insubstituíveis, por que existem bilhões? Se somos um só, por que sinto que já fui várias? 
- Irrelevante, por óbvio. Cada passo traz o peso que merece e cada olhar, o reflexo que ignoramos para encobrir qualquer desgosto. De todos, apenas um. Mas num agora muito turvo para se dizer até quando se fará permanecer. Em verdade, todo agora é assim. Os fatos são como fotografias a serem reveladas, bem se sabe. 
Enquanto me ouvia, torcia o nariz. Os sentidos eram reinterpretados como queria, o que tentei evitar: "Não era você que acreditava que os atos da vida se concatenavam?", indaguei. 
- Sim, mas temo tê-los desconcatenado por minha conta. 
- Acalme-se. Se para ligá-los não foi você, para desamarrá-los, também não há de ter sido. 
- Você deve estar certa, talvez os exageros sejam pontos de distúrbios a serem expressados, enquanto a roleta demonstra como o jogo ficará. Mas como todo jogo, de nada adianta sentar-se na frente da TV, na terça ou no sábado, quando os resultados só saem aos domingos. Da mesma forma, a vida. 
- Sim, logo quando já nem se espera mais é que sobrevêm os sorteios. Portanto, aconselho a se conter, já extravasara além da conta. 
Retornei ao saguão. Vi que as malas já estavam lá. Uma imagem nova se mostrou, teve-me despreparada como não previa. Novamente os exageros entre o clima quente e a euforia à borda, num aspecto de risos e satisfação.
- Cuidarei de punir-me em consciência, mas, por ora, deixe-me esquecer dos limites - saiu do hotel e pegou um táxi sozinha, como deveria ser, rumo às cores, mas desta vez de seu próprio sonho.

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