Olhos vagos e estômago vazio

Dualidade. Ser duas. Dividir-me. Dividir minha cabeça, tempo, espaço, comportamento, temperamento, postura, atitudes, vocabulário, (versus) palavreado, olhar, estômago. Tenho que lidar com esta constante em minha vida. Divido-me por todo tempo. Por vezes, bem. Outras, nem tanto. Em geral, (e de certa forma, creio que seja natural) acabo por priorizar um lado da moeda a outro. O que não faz com que eu goste menos do lado relativizado. Lado este que me desafia, mas, me desvia. Foco é trilhar em uma grande avenida movimentada e colorida, mas, nela enxergar um beco escuro com apenas uma luz no final. É fazê-lo sem dar moral pro som ecoante das vozes que te gritam a todo instante. Dada tamanha precisão, impossível se torna ter foco em dois objetivos amplamente diversos. Não, não me sinto impotente. Não posso ser onipresente. Mas, corta-me não viver minhas duas realidades concomitantemente. E infelizmente, não me corta literalmente, vez que, assim, sanado estaria o aqui tão complicado. Corta-me internamente, resulta em dor latente, que ninguém mais sente. Se duas vidas tivesse, de cada uma sei bem o que faria. Mas, gozo de apenas um tempo presente, uma vida pra usar, uma chance de alcançar o que mais almejo desfrutar. Não posso desperdiçar, não posso me dispersar. Continuo a me dividir, de forma arbitrária, sendo claramente péssima nisso. Há quem entenda, como há quem continue na reprimenda. Seria consequência do meu signo? (Gêmeos) Se não o fosse, seria, no mínimo, coincidência demais. E eu não acredito em nothing but coincidência. Portanto, quesito coincidência eleito. Não cabe falar em duas caras. Cabe falar em duas pessoas distintas que se confundem em uma, pequena demais para abrigá-las, real demais para disfarçá-las. No passo do apressado que se desdobra, sigo desviando e encarando, evoluindo e regredindo. Debatendo comigo, explicando o que nem eu entendo. Não só ouço como sinto o som. Intangível. Não por sua própria natureza. Há beats tangíveis (claro que uso sentido figurado). É como se muito quisesse tocá-lo, expressá-lo.  Alcança um lugar em mim que eu não sei o quão fundo é, faz o peito ficar lotado de ar, esqueço de respirar, a música toma lugar, é natureza, é pureza, é uma vibe que não quero perder, quero prestar atenção pra aproveitar o feeling, mas, curto sabendo que vai acabar. Parece sobrenatural. E passa. E demora a voltar. E é único demais pra voltar. E começo a crer que talvez não voltará. E meus olhos ficam vagos. Meu estômago vazio.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fluxo vespertino

ode a sp

pote, pavão, relógio