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Brincava com a verdade, num estímulo de quem não sabe sorrir de forma natural. Achava do destino um tolo, enxergava a todos como máquinas fadadas à ferrugem. Quem sabe uma forma nova não se assumiria se trocassem sua engrenagem,  fosse feita alguma reposição de peças, entendido melhor seu manual? Ninguém sabe. E também não quiseram saber. Já completava a quadragésima década e, até então, não via sentido em nada. Produto de consumo do tempo, era capaz de perceber apenas o decurso de anos, ignorava os dias, semanas e meses. A tosse constante e a náusea eventual lhe lembravam de sua condição humana. O terno padrão como o de vários outros lhe deixava ainda mais longe de si, desafiando se havia alguém ali dentro. Quis parar com essa brincadeira. Usou a forma que julgou menos gravosa. Não conseguiu, acordando e se frustrando ao ter os olhos abertos, além dos entediantes dias no hospital para desintoxicação. Falha a tentativa de romper com a própria vida, sentiu ira por estar e...

Tarde de verão

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Quinta-feira de dezembro. O sol já deixava sua ardência para o anúncio de que em breve iria se pôr. Acordei atordoada notando que os sonhos bons do cochilo após o almoço haviam se estendido de forma a quase impedir que eu cumprisse com o combinado. Em um salto, me levantei, lavei o rosto, vesti algumas roupas, peguei as chaves do apartamento e saí correndo pelas ruas, desviando das pessoas que consegui e dando algumas esbarradas em sujeitos de bem que me olhavam indagando-se se eu havia roubado alguém para justificar a pressa. Não havia. Apenas tinha a intenção de chegar até o farol antes do pôr-do-sol. No Recife, se o relógio mostrasse mais que 16h30, já se poderia desapertar o passo e se contentar com o do dia seguinte, o sol não espera. E Miguel disse que também não esperaria. Era a última chance que daria a nós dois. Lembrava disso e corria ainda mais. Com o trânsito do horário, era incogitável usar qualquer outro mei...

Da mantença para mudança

Seis horas. Com sede de viver, tratou de se levantar. A manhã de julho cujo frio era prazeroso exigia que, para seu desfrute, o ar pudesse tocar a pele. Arrancou a camisa e abriu a porta da cozinha a fim de sentir o frescor do vento, aproveitava para notar como era bom não conter suas vontades temendo ser lembrado de que poderia se resfriar ou algo besta assim. Renovado após aquela noite, quis preparar o café. Passara anos escapando de casa logo cedo e acabando por se sujeitar a tomar aquele meia boca da padaria, pago com moedas que lhe pesavam no fim do mês. Agora sentia o cheiro de uma bebida forte, recém preparada. A despeito de estar sozinho, brindou consigo mesmo. Era fácil notar o efeito que lhe causara aquela mudança. Sempre tão seguro e estável, era novo ter os pés fora do chão e algumas incertezas no peito que pouco lhe incomodavam. Queria explorar ainda mais aquilo que sentia, trazer à tona as faíscas que lhe exp...

Brevidade

De questionamentos vivem alguns. Cobranças infundadas e críticas descabidas. Colocam-nos como querem, sem oportunidades reais de explanação. E, ainda que nos dessem tal espaço, considerariam nossas palavras mera retórica, ignorariam o que contêm. Os olhos incisivos desviados do trilho como cães raivosos contidos por coleiras, o desgosto espumante na boca, a garganta travada na falha tentativa de conter o remorso que já transborda, os pulsos cerrados, os passos apressados. É possível sentir em forma de reflexo o resultado de cada emissão que figuramos como destinatário, ainda que intangíveis e sem apontamentos diretos. Talvez nos desvendem. Talvez tentem nos reprogramar. Talvez tenham em mente que não há situação alguma neste mundo em que se aplica o instituto da segunda chance de modo a restabelecer um idêntico quadro. Todo ato é relato, mas nem todo relato fora mesmo um ato.

Atrasado fim

Uma vez ali, sinto como se o resto do mundo irrelevante fosse. Não me importo com o que dirão. Posso ser deus ou o diabo. A mim não cabe decidir ou influenciar. Deixo que optem conforme queiram, que gritem ou se rendam, que se soltem ou se prendam. Não pregarei minha boa-fé ou autonomia. Estão cientes, dispensam relatos contentes. Creio que daqui não passará. Covas são para se cavar e os corpos, para enterrar. Deixe-me ir ou terá de arcar com o peso do pesar. Lamento pelas escusas que não usei e pelas desculpas que disfarcei. Talvez eu seja mesmo o diabo, já não sei.

Falsa satisfação

Beijei-lhe em um desconforto incômodo, desafiando os quatorze anos que compartilhamos juntos. Era como se aquela cama não fosse a nossa e aquela casa não estivesse conosco por todo esse tempo. Enquanto aqueles olhos sedentos me fitavam, aguardando por me consumir, percebi como eu desconhecia o prazer daquela cópula e questionei-me se esta estranheza que transborda minhas dimensões não era por ele notada. Senti saudades dos tempos em que morava com mamãe. Ainda que aquele quarto mal nos comportasse e a fome e o frio nos lembrassem de toda a miséria, não restava muito espaço para sentimentos ruins. As demandas fisiológicas predominavam, afastando qualquer dor proveniente de outra fonte. Por vezes, acreditei que tudo fosse uma coisa só, bastando que eu me saciasse fisicamente para que fosse tomada por um êxtase emocional. Mas, por fim, pude me convencer de que nada era mais inefável que as emoções. Deitada ali em meio àqueles lençóis caros, encarando o homem que tornou apenas lembrança...
We're always playing games. I guess we were born to do that. No matter what Kant said, we're never gonna do something without an intention.

Devaneios Oníricos

Duas horas da manhã e é, no mínimo, a décima vez em que olho o relógio. Às seis horas, o despertador começará a gritar, na doce ilusão de que estarei dormindo, quando, na verdade, meu sono sequer ainda terá chegado. O formato do meu corpo desenhado no colchão só me faz lembrar que já estou deitada há quatro horas. Esta noite, inclusive, fiz questão de recolher-me mais cedo, ciente da necessidade de oito horas bem dormidas para uma boa aparência amanhã. Bem se sabe que para uma mulher de 49, não há maquiagem milagrosa. Parte disso é culpa deste raio de travesseiro. Se fosse um de plumas de ganso feito o de mamãe, é claro que eu já estaria dormindo há muito tempo. Isto me faz lembrar do tempo em que o comprei, ainda noiva de Edgar. O perfume daquele infeliz ficava sempre impregnado não só no travesseiro, como em toda cama, além de meu corpo e meus cabelos... Passávamos horas deitados juntos, como se não houvesse um mundo lá fora e tudo que precisássemos estivesse dentro deste quart...

Perspectiva

A cada porta que se fecha, eu vejo mil se abrindo. Isto faz meu dia lindo. Abraço cada oportunidade como se filhos fossem. Deixo-os à vontade, faço de meus braços perfeita morada. Não cabe insegurança ou hesitação. É como se alguns passassem a vida se lamentando pelo que não foram, deixando de se admirar com o que ganharam no percurso não planejado. Calo-me para conter minha revolta contra estes. Inspiro o ar da renovação e expiro aquele de contradição. O futuro é o hoje em forma de expectativa, nuvem de desejos e questões. Construo-o com cada passo, aguardando pelo destino que virá como resultado. Não há que se temer em almejar o melhor, somos quem queremos ser, ao contrário do que cantam por aí.
"They play it safe, are quick to assassinate what they do not understand. They move in packs, ingesting more and more fear with every act of hate on one another. They feel most comfortable in groups: less guilt to swallow. They are us. This is what we have become, afraid to respect the individual. A single person or event or circumstance can move one to change: To love herself. To evolve." https://www.youtube.com/watch?v=9hVp47f5YZg https://www.youtube.com/watch?v=bI3qRovp1A8

Frieza realista

Algumas pessoas se portam como se somente esperassem pelo nosso fracasso. São meros telespectadores da vida real ou talvez fantoches movidos pelo prazer de pressentir e comprovar o desgosto alheio. Tais seres, dada sua insignificância, não merecem nada além de nossas condolências. Por eles compartilho o pior sentimento que ao homem pode ocorrer, deprimindo-me ao pensar como podem ser tão infelizes. Nada resta a nós a não ser retirar-lhes o doce gosto ácido de estarem certos no próprio pessimismo. Que sigam sendo miseráveis como quiserem, enquanto nos empenharemos em decepcioná-los.

concepts

Some people are just fine getting the opening act. And some don't dream even about that. But others are born to set the world on fire.

Decurso ingrato ou apenas sensato

Tempo. Talvez de tão curto tenha se tornado avarento, mostrando, nas nuances do firmamento, que pouco já é suficiente para seu contento. Preso à parede, o relógio só faz lembrar que seu destino está selado feito o daquele bastardo que tira a vida de outro desafortunado. Não basta querer se libertar, estará sempre fadado a fracassar, assim como o tempo quando quiser parar.

Realismo hipócrita

Cada um interpreta os fatos da maneira que lhe convém. Isto não é um defeito ou problema para ninguém. O que se busca é estar em paz com as próprias ações, justificá-las, dar-lhes razão. Não há, portanto, que se recriminar aquele que, com seu tato, reconta qualquer ato com ênfase no que quer e descaso no que não lhe couber. Resta, assim, aceitar e acatar o que quiserem nos empurrar, mas, claro, resguardar nosso próprio pensar, e apenas repassar aquilo que nos propusemos a acreditar.

Desajuste

Ela saltou do ônibus empoeirado, com sua mochila nas costas, agasalho amarrado em sua cintura, fechou os olhos por um instante e deixou que o vento leve e os raios de sol tocassem seu rosto. Logo, foi interrompida pela velha rabugenta que, vindo atrás, a cutucou com a bengala indicando que queria passar. Ela, sem se importar, deu mais uma longa respirada e, finalmente, desobstruiu a passagem. Sem saber para qual lado ir, deu uma olhada ao redor e, em meio a tantos carros, buzinas, pessoas e correria, encontrou um rapaz que estava sentado na rua, um pouco distante da confusão, desenhando fotografias. Achou que seria uma boa pessoa para lhe dar as informações que precisava e, assim, dirigiu-se ao artista de rua que, apesar de um pouco sujo e com o cabelo desgrenhado, tinha boa aparência: - ¿ Me puede decir dónde voy a encontrar la calle São José? Estoy cierta de que es cerca de aquí, pero no sé muy bien por cual camino debo pasar. - Hola, linda! É só ...

But it does

"Should" is a word that shouldn't exist!

O fim último como presente

Assim como Aristóteles, penso que a felicidade é o fim último que a vida humana, desde os primórdios, busca. Indiscutível é que suas teorias deram base a muitas outras desenvolvidas no século XX. Entretanto, nascer alguns séculos mais tarde, atrevo-me dizer, lhe faria bem. Certamente, atingiria um nível inimaginável de perfeição no pensar. Faltou-lhe conhecer Darwin, admitamos. Deixando de lado o escorregão do filósofo que, a propósito, é um dos meus favoritos ao trazer a ideia do homem moderado, passo a concentrar em seus acertos. Tudo gira em torno desta incessante busca à felicidade. Para mim, definida como o sentimento mais inexplicável que ao homem pode ocorrer. Para ele, com um sentido diverso, motivo pelo qual sigo agora a meu modo de pensar. Felicidade é sentimento, ora. O anseio para do mesmo desfrutar é tão intenso que sequer considera-se sua natureza. Como tal, é volátil. É estado de espírito. Vem e volta. Não há momento na vi...

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Toda tentativa de generalização é falha. E, nesta, esta se inclui.

À Amanda da vez

Uma parte de mim foi arrancada com a brutalidade e maestria que só um criminoso tem. Não o culpo, mas também não o perdoo. E se o ver, mato-lhe também. Se em meu peito só resta solidão, em sua cabeça agora é tensão. Remorso por ter matado? Insensatez. Medo de ser encontrado? Talvez. Um disparo e mais nada, fim da risada, galera animada, festa badalada, amigos em ritmo de noitada, meia vida de uma namorada. Muitos olhos marejados, outros calados, não menos preocupados. Para quem acredita que haverá um reencontro, conforto. Para mim, que vejo que acabou o conto, ele está morto. O Estado do caos ainda é presente. Medo latente. Conflito pendente. Hobbes contente. Povo inconsciente. Mudança insuficiente. Esperança dormente. Dona da minha liberdade eu sou agora. De que adianta? Metade de mim foi embora.

Fluxo vespertino

Tardes são movidas por um fluxo (peço-lhes licença para uso de um neologismo) inconceituável. Pode-se delas dizer um espaço de tempo que se estende do fim da manhã até o início da noite, em que o sol está (ou não) no céu e cujo tempo passa (ou não) lentamente. E são tomadas por um marasmo incômodo, para alguns, ou por uma correria esgotante, para outros. Para mim, como já era de se esperar, vez que, por natureza, defino-me instável, nunca houve posicionamento claro no que tange à qual tipo de tarde gozam meus dias. Assim, deixo de lado esta análise que, em suma, nada acrescentará. E passo, pois, a tentar entender, não mais em abstrato, certa tarde concreta que me ocorrera. Não posso dizê-la atípica por não ter tardes típicas a me referenciarem, mas, adianto-lhes que esta em muito se diferenciou de todas as demais, por ter o decurso do tempo sido híbrido. O ponteiro do relógio vagarosamente ia se arrastando, e, por...

É agora?

Quando somos jovens tudo é intensificado. Qualquer estado de espírito parece eterno e, de uma forma paradoxal, transforma-se tão rapidamente que a mudança parece não ter sequer ocorrido. E, assim, o novo estado coloca-se como o próximo eterno. Alguns dão-se conta de que a metamorfose é fator inarredável. Outros, com propriedade, orgulham-se do que dizem ser com tanta certeza. Não os julgo. É normal que sintamos ser o que estamos sendo. É normal que nem sequer façamos diferenciação entre ser e estar sendo. Mas, eis que vos digo, não somos aquilo que nos taxam ou aquilo que nos taxamos. Não estamos fadados a sê-lo para sempre, não há nada que vincule nosso destino. Não há que ter-se receio de tentar, errar ou apostar. Somos presenteados com o presente, recebendo chances novas todos os dias ao acordar. Quando não restar oportunidade alguma, não daremos conta, vez que teremos deixado de ser. Mas, enquanto somos, não há chance inesgotável ou futuro inalterável. O que há, por mais clichê qu...

Eu, eu não domino a esgrima

Como lidar? Com a cara a tapa do tapa que não foi dado e o humor que não está relaxado, o suor que deixa de transpirar, devido ao corre que tira as forças do lugar. Põe no pesadelo o sonho mais bonito e tira da mente o que tinha de bom, deixa achar que só restou o que não presta. Parece que acabou a festa, cada dia fica pior. É como o moleque que enxergava o que tinha por detrás dos olhos, bastou que se curasse o que estava lá pra deixar de remoer a dor do que costumava ver. Assim é o homem. Depende do ponto de vista, pode achar a paisagem preta ou colorida. Qualquer coisa que eu disser não fará sentido, porque não querem ver sentido, querem achar que eu não ligo. A verdade é que ligo e assim me castigo.

Desvio controlado. Erro pensado

Marcadores. Corredores. Ruas e rumores. Verso. Canto. Em cada canto um progresso. Vida. Vivo. Há que se viver a vida vivo. Sonhos só ao dormir. Sonho acordado é plano articulado. E não basta só o olho fechado. Quem sonha tem que dormir. Traços no caminho. Despertar do ninho. Ovulações e perdições. Mistérios e tentações. O que o olho vê o corpo quer. Perde a cabeça, perde a mulher. Ao homem pede-se foco. Ignorar o inesperado, manter apenas o programado. Essências levam além. Sentidos são mais de cem. Nada confiáveis. Meros escravos da mente. Conduzem a caminhos errados e influenciam a gente. Permita-se ao erro consciente. Ou tire da frente aquilo que não convém. Sempre saiba voltar, o caminho retomar. Não há que se lamentar. Isso pra mim não é pecar.

Ar, eu preciso de um ar

Essa televisão deve estar me deixando pirada. Vai ver não sou eu que sou tão diferente, os outros é que são iguais demais. Será que estão tentando me manipular? Fazer eu pensar que se em um rótulo eu me encaixar talvez seja mais fácil me adaptar e este mundo integrar? Ah, mais eu não quero andar na linha, quero a liberdade desfrutar, quero seguir pelo caminho que eu mesma trilhar, quero escolher como votar, quero da minha mente limpar todo o lixo vendido que nas propagandas não para de passar, quero esquecer que um dia eu me punha a rezar esperando por uma redenção prometida por deuses que outras cabeças costumavam criar, quero  acreditar no que vejo e não no que meus olhos estão a enxergar, quero lamentar por aqueles que insistem em camuflar o cenário e colocá-lo como verdadeiro relicário, dizer aos mesmos que estão sendo observados por um órgão maior que diz se preocupar com o popular mais se interessa mesmo é em seu particular. A tutela nos empurrada garganta abaixo insiste em ...

Palavras

Palavras não deveriam ter significado. Este é sempre mitigado. Ninguém é responsável por nada. A verdade é uma piada. Pobre daquele que precisar pagar por qualquer besteira que falar. E mais pobre coitado daquele que acreditar. Amanhã ninguém já tem mais o mesmo pensar. Não existe equívoco. Existe visão posterior. E por haver uma posterior não quer dizer que a anterior seja inferior. As coisas simplesmente se transformam e isso em nada me incomoda. Na verdade, a cada vez que entrar no rio quero sentí-lo diferente. E se o sinto diferente como relatá-lo de forma igual? Como comprometer-me com o que fora dito no frisson sentido por uma água que me tocara e agora não toca mais? Tenho certeza que Heráclito me entenderia. Não temo em me contradizer, pois não há vínculo que me prenda ao que disse. Minha mente flui mais rápido que meus olhos estáticos conseguem demonstrar. Minhas palavras acompanham, meu discurso muda. Bem se sabe que a situação faz o ladrão. Se disse, falei. Não me importo, p...

Lastros

Dia atípico. O frio só corrobora com a impressão de solidão que o ar tece no raio que me circula. Seria só mais uma monótona terça-feira se não fossem as memórias que a todo momento batem na minha cabeça, martelando meu peito e deixando um pouquinho de falta de ar. Nada demais, eu diria. Não é surpresa para ninguém se lembrar de coisas passadas. É comum, inclusive. O que me faz dissertar sobre este estranho sentimento é que há muito eu não me recordava de coisas que recordei hoje. Imagens fracionadas, jogadas para trás. Não fora culpa ou dolo, o tempo nos toma a vida naturalmente e nada nos resta a fazer. Aos poucos os caminhos se constroem, desenham belas curvas como estradas, deixam escolhas, fazem imposições. Não reclamo. Viver é melhor que sonhar. E eu sei que a vida é uma coisa boa. Uma pasta colorida, um cheirinho de lanche guardado, arquinhos (lindos), risadas, uniformes, dentes de leite, serventes gordas, porteiros altos, grades coloridas, portas pintadas, um restinho de co...

Olhos vagos e estômago vazio

Dualidade. Ser duas. Dividir-me. Dividir minha cabeça, tempo, espaço, comportamento, temperamento, postura, atitudes, vocabulário, (versus) palavreado, olhar, estômago. Tenho que lidar com esta constante em minha vida. Divido-me por todo tempo. Por vezes, bem. Outras, nem tanto. Em geral, (e de certa forma, creio que seja natural) acabo por priorizar um lado da moeda a outro. O que não faz com que eu goste menos do lado relativizado. Lado este que me desafia, mas, me desvia. Foco é trilhar em uma grande avenida movimentada e colorida, mas, nela enxergar um beco escuro com apenas uma luz no final. É fazê-lo sem dar moral pro som ecoante das vozes que te gritam a todo instante. Dada tamanha precisão, impossível se torna ter foco em dois objetivos amplamente diversos. Não, não me sinto impotente. Não posso ser onipresente. Mas, corta-me não viver minhas duas realidades concomitantemente. E infelizmente, não me corta literalmente, vez que, assim, sanado estaria o aqui tã...

How they describe us

You are what you eat, what you dress, what you do, what you think.. all of these things come together to become just one: you. you are those things, you are your body, you are your thoughts, your are your clothes, you are your behavior, you are your family, you are your favorite TV show, you are your favorite snack, you are how you treat people,  you are what  people think about you, you are what nobody knows about you, you are the size of your shoes, you are the perfume you use, you are your pets, you are your voice, you are your rings, you are your partner, you are the person you live with, you are your job, you are your facial expressions, you are the way you look today, you are the sports you practice, you are your father, you are your mother, in some ocasions you are your sisters and brothers, you are your favorite song or  favorite musician, your favorite color and how you put up your hair..  you are everything and everything is nothing compared to you.

Perdoem-me

Retifico o declarado em fls. 05 dos autos, i mean, o declarado no link abaixo: http://iwontlethemknow.blogspot.com/2011/05/liberdade-de-pensamento-so-admite.html Verificado o equívoco, torno válida a teoria do contraditório e resguardo espaço para as exceções que estão presentes em todas as regras (o que faz desta um paradoxo) e contesto: Regressar à submissão crédula nem sempre é algo ruim e a estupidez pode ser extremamente atraente, fato pelo qual eu não a chamaria de estupidez e sim "tranquilidade e impossibilidade de lidar com as questões que preocupam os pensadores". Faço concluso os autos para a apreciação de meus fiéis seguidores que o vulgo chama de ninguém.

Amanhã

O ontem hoje é velho, o hoje é velho amanhã, o amanhã é novo hoje e não mais amanhã, o amanhã nunca será novo no dia que se realiza. Mas, o amanhã se realiza? Se realiza todo dia ou se promete todo dia? Existe o amanhã? Sim, não falo da probabilidade latente da morte, considero inclusive que todos estejamos vivos amanhã; o que quero saber é se ele acontecerá ou dará lugar para um dia que não lhe pertence? Assim, ele não teria vez. Nunca teria vez. Seria um prometido, um filho de político, um pedinte em uma fila, um velho com senha na mão que morre antes de sua vez, um cobrador que trabalha pedindo um dinheiro que não é seu, um jornal vegetariano que publica dicas de churrasco, um som ouvido de longe que perde sua procedência pelo caminho, uma página de um livro que ainda não foi escrita, um espaço em branco no meio de uma carta de amor, um barquinho de papel que navega para além de onde suas vistas o alcançam e você não o assiste se desmanchar na água, um episódio de Chaves escrito e n...